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Estreitando laços

Titular da ANEST aposta na integração e descentralização das informações para maior valorização e aprimoramento profissional

Entrevista à jornalista Daniela Bossle

Benvenuto Gonçalves Júnior, 52 anos, cumpre seu segundo mandato como presidente da ANEST (Associação Nacional de Engenharia de Segurança do Trabalho) no período de 2021 a 2023. Com uma vivência diferente dos profissionais atuantes nos grandes centros urbanos, ele nasceu no interior do Rio Grande do Norte, no município de Assú, região voltada à fruticultura irrigada. Como engenheiro agrônomo trabalhou em grandes usinas de açúcar em Alagoas, onde teve os primeiros contatos com a Segurança do Trabalho e depois em empresa multinacional voltada para produção e comércio de frutas. Mais tarde, de volta ao Rio Grande do Norte, fez especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e dedicou-se à produção rural.

À frente da ANEST, sua maior preocupação é que a informação e o conhecimento cheguem também às pequenas empresas, inclusive às rurais, bem como aos profissionais da área de Segurança do Trabalho que estão no interior do país. Tanto que a entidade vem procurando realizar seus grandes encontros e congressos no interior dos estados e não nas capitais. O último Conest aconteceu em novembro de 2021 em Londrina/PR e o próximo encontro nacional (Enest) será em Vila Velha/ ES. “Queremos chegar também naquele engenheiro do interior porque com certeza ele é menos assistido que o engenheiro da capital. O leque de opções e de acesso é bem menor do que para os profissionais que estão nas capitais. Claro que hoje temos eventos em modo virtual, que facilitam o acesso, mas acredito muito ainda nos encontros presenciais”, diz ele.

Benvenuto também é especialista em Economia e Gestão de Empresas, conselheiro do CREA/RN e perito judicial do TRT da 21ª Região.

Antes de presidir a ANEST o senhor esteve à frente da sua filiada em Natal. Qual a importância deste primeiro trabalho? Fui presidente da AEST/RN por dois mandatos. A Associação estava sem funcionar há vários anos e fizemos uma retomada. Realizamos vários eventos de SST, fizemos parcerias com órgãos públicos visando maior valorização profissional. A entidade de classe que tinha atuação estadual começou a ter visibilidade no cenário nacional, o que chamou a atenção das lideranças. Durante o 19° Conest no Estado da Paraíba, participei de uma eleição bem disputada na ANEST, e obtive êxito.

Quantas filiadas a ANEST tem hoje e em quais estados? Há uma estimativa de quantos engenheiros de segurança existem no país? E destes quantos são associados à ANEST e/ ou suas filiadas? Hoje há 20 associações filiadas localizadas em diversos estados (veja quais são e onde estão no box Filiadas da ANEST). No país todo temos 79 mil engenheiros de segurança registrados no Confea. Destes, cerca de 50 mil são filiados às entidades e representações estaduais. A ANEST é uma entidade de classe registrada no Confea e representa legalmente os engenheiros de Segurança do Trabalho no Brasil.

Qual tem sido o trabalho da entidade com suas filiadas? O que a ANEST procura oferecer? Servimos a sociedade brasileira, em primeiro lugar, por meio da divulgação de fundamentos e princípios de conscientização e mentalidade prevencionista, o que inclui prioritariamente a classe trabalhadora e empregadora, buscando

eliminar os acidentes e doenças do trabalho. Durante a minha primeira gestão que se deu de 2018 a 2020 passamos a ter uma aproximação e um contato maior com os profissionais da Engenharia de Segurança do Trabalho. Hoje os profissionais estão mais próximos da sua entidade nacional e de suas filiadas. Isso ocasionou um público maior nos nossos eventos, eles passaram a ter a ANEST como referência. Temos desenvolvido diversas ações voltadas para a classe como congressos, seminários, simpósios, lives. Anualmente, a ANEST realiza o Congresso Nacional de Engenharia de Seguran-ça do Trabalho, o Conest. Vamos esse ano para o 24° Conest, que acontecerá em Recife/PE. É um congresso internacional em que já recebemos presencialmente profissionais de Angola e Portugal e os grandes nomes da Engenharia de Segurança do Trabalho do Brasil. O Congresso conta também com a submissão de trabalhos técnicos científicos. O Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) é o principal parceiro da ANEST no Brasil. Temos assento no CDEN (Colégio de Entidades Nacionais) do Conselho. Outra iniciativa importante foi a criação de um canal no YouTube chamado ANESTTV, onde realizamos as nossas lives com profissionais que possuem projeção nacional e/ou internacional. Participamos de mais de 70 eventos no ano de 2021 (lives, congressos, seminários, etc.) na condição de realizadores, apoiadores ou convidados.

Por que é importante que os profissionais da área se aproximem das entidades em seus estados? Fazendo parte de suas entidades de classe os profissionais têm a oportunidade de propor melhorias nos diversos fóruns de discussão junto aos órgãos governamentais, setor empresarial e à sociedade como um todo. Possibilidades de aperfeiçoamento técnico a partir das inovações tecnológicas divulgadas, aumento da rede de contatos proporcionando a troca de informações relevantes com base na colaboração e ajuda mútua são diferenciais importantes oferecidos aos nossos filiados. Assinamos nos últimos quatro anos protocolos de cooperação com o Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, com a Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), com o ISCIA (Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração), de Portugal, com o Ministério Público do Trabalho por meio da Procuradoria Regional do Trabalho da 21ª Região, com a FEDRAVE/ISCIA (Fundação para o Estudo e Desenvolvimento da Região de Aveiro) de Portugal e com a ASVDS (Associação Vertentes e Desafios da Segurança) também de Portugal. A ANEST reúne e viabiliza as demandas dos engenheiros de segurança por meio das associações estaduais filiadas. Acompanhamos a fiscalização das atividades profissionais em parceria com o sistema Confea/CREA.

Quais os maiores desafios de sua gestão enquanto presidente da ANEST? Acredito que o maior desafio seja uma aproximação maior com os engenheiros de Segurança do Trabalho e uma das medidas essenciais é a criação de associações filiadas à ANEST em todos os estados do Brasil. Queremos chegar também naquele engenheiro do interior porque com certeza ele é menos assistido que o engenheiro da capital. O leque de opções e de acesso é bem menor do que para os profissionais que estão nas capitais. Claro que hoje temos eventos em modo virtual, que facilitam o acesso, mas acredito muito ainda nos encontros presenciais. Criar frentes parlamentares de SST em cada estado para que elas possam instituir leis municipais e estaduais em Engenharia de Segurança do Trabalho é outro desafio importante bem como a participação dos profissionais na Comissão Tripartite Paritária Permanente na reformulação das NRs. Também não poderia deixar de mencionar a implementação da cultura e da educação em prevenção de acidentes por meio de conscientização e treinamentos contínuos em Segurança do Trabalho como outra meta sempre presente nas iniciativas da Associação e de suas filiadas.

Fale sobre a aproximação da ANEST com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Qual o motivo desta aproximação? A participação da ANEST junto à CPLP teve início em março de 2018 durante o 1° Encontro Luso-Brasileiro de Engenharia em Lisboa/Portugal; evento promovido pela OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos de Portugal) que propiciou um intercâmbio de informações sobre a atuação dos engenheiros nesses países. O objetivo principal é tornar realidade a livre circulação dos engenheiros na CPLP através da eliminação de barreiras profissionais. A livre circulação deverá contribuir com uma maior empregabilidade, capacitação e atualização dos profissionais que têm como língua oficial o português. A Engenharia não tem fronteiras. Acredito que esse processo de integração possibilitará que profissionais da Engenharia possam atuar nos países membros com os mesmos direitos e deveres decorrentes do exercício da atividade profissional. Durante o evento em Portugal foi criada a Associação Lusófona de Engenharia de Segurança do Trabalho, a ALENGESST que tem como um dos seus fins a representação em matérias relacionadas com o ensino e o exercício da Engenharia no âmbito da Segurança e Saúde no Trabalho. A ANEST participou da constituição da ALENGESST representada presencialmente por mim. Em seguida, os debates sobre a livre circulação aconteceram em congressos realizados em Cabo Verde e Angola. Também tivemos contatos com a Espanha em fevereiro de 2020, durante evento, onde recebi algumas homenagens como a Medalha de Ouro ao Mérito Profissional, tendo sido o primeiro engenheiro brasileiro a recebê-la. E também recebi a Menção de Honra da Comissão de Honras e Recompensas – ambas premiações oferecidas pela mesma entidade: o Conselho Geral das Relações Industriais e Ciências do Trabalho. Anteriormente, a ANEST já havia recebido da mesma entidade, o PREVER 2019 – Premio Nacional de Prevenção de Riscos Laborais, na categoria Internacional. No Brasil, em 2021, durante o 23º Conest realizado em Londrina no Paraná fui homenageado pelo Sistema Confea/Crea e Mútua, por meio do seu presidente Joel Kruger, como reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na presidência da ANEST.

Como o senhor avalia o preparo dos profissionais para atuar com a Engenharia de Segurança do Trabalho? Como está o mercado para estes profissionais? Quais as dificuldades? No geral os profissionais da Engenharia de Segurança do Trabalho no Brasil tiveram cursos de pós-graduação de excelente nível de conhecimento e instrução. A crescente preocupação é com a qualidade dos cursos de EAD. Além disso, a ANEST todos os anos realiza diversos eventos de ponta para o aperfeiçoamento profissional, cursos presenciais, virtuais e lives, visando a atualização e o aperfeiçoamento tecnológico desses profissionais. Portanto esse é um ponto alto. Sobre o mercado de trabalho, na última década, não foi bom no país, pois não tem havido fiscalização programada, planejada e constante por parte do Ministério do Trabalho criando um enorme vazio legal. Infelizmente, regra geral, o empregador só contrata engenheiro de segurança quando a empresa é notificada. As dificuldades que existem são inerentes à falta de mentalidade e cultura prevencionista do empregador. A política e os programas de prevenção de acidentes e doenças, devidamente implementados pela empresa, ao contratar engenheiro de segurança, reduzem as despesas e os desperdícios, bem como aumentam a produtividade e a qualidade dos produtos fabricados trazendo lucro e crescimento.

Em janeiro entraram em vigor novas normas regulamentadoras que foram revisadas, entre elas, a NR 1 com o GRO/PGR. Qual sua percepção sobre o processo de revisão? Os profissionais estão preparados para implementarem o GRO? A necessidade de as empresas elaborarem uma Gestão dos Riscos Ocupacionais foi uma conquista de toda a sociedade, pois uma boa gestão de SST reduz o número de acidentes e doenças do trabalho, reduz o absenteísmo e sinistralidade que geram custos altíssimos para as empresas, para o governo e trazem sofrimento e dor para os trabalhadores. A nova NR 1, que tem como referência a norma ISO 45.001, mostra o passo a passo para a elaboração e a implementação do PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) que ajudará as organizações, a estabelecer estratégias em que os perigos existentes são identificados, os riscos ocupacionais são classificados para a sua eliminação, substituição ou mitigação. A prioridade será sempre para os riscos maiores que causam maiores impactos – aqueles que têm maior probabilidade de ocorrer ou os que têm uma gravidade maior, caso ocorram – que constarão no Inventário de Riscos e no Plano de Ação do PGR. Além da prevenção de acidentes e doenças, o PGR se preocupa com a redução do impacto dos acidentes, caso ocorram. O Ministério do Trabalho deu um prazo razoável para que a norma entrasse em vigor, para que as empresas se preparassem, para que os programas estivessem prontos, mas, infelizmente, não é o que venho observando. Muitas empresas ainda não entenderam sua necessidade e obrigatoriedade e sofrerão sanções nas fiscalizações. Muitos profissionais de SST correram para se capacitar, mas uma grande parte ainda está buscando um modelo para sua elaboração, não entendendo como funciona um sistema de gestão de SST. Muitos olham para o GRO e o PGR como obstáculos e custos adicionais, mas entendo que a gestão de SST organizada num programa de gestão, será uma oportunidade para as empresas reduzirem custos e aumentar sua lucratividade, reduzindo seus perigos e riscos. Vejo também uma grande oportunidade para os bons profissionais que se dedicaram a estudar sobre o tema, pois serão muito requisitados e valorizados.

Ref.: Revista Proteção, Saúde e Segurança do Trabalho (Digital): Estreitando laços Editora Proteção Publicações. Ed. 362, p. 10, fevereiro/2022.

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