Notícias Relacionadas

Informações importantes ao setor de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional.

Trabalho Remoto – Estamos Preparados?

Trabalho Remoto - Estamos Preparados?

Trabalho Remoto – Estamos Preparados?

Teletrabalho ganhou força a partir da pandemia e lança novos desafios aos profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho

Reportagem de Marla Cardoso

 

Assim que a pandemia do novo Coronavírus despontou no Brasil, no início de 2020, muitas empresas no país se viram obrigadas a adotar uma nova modalidade de trabalho. Visto antes como um privilégio, o home office chegou a atingir 8,2 milhões de pessoas no auge da contaminação, entre maio e novembro daquele mesmo ano. O número, de acordo com pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), representa 11% dos 74 milhões que seguiram trabalhando de forma presencial no mesmo período. Foi o suficiente para que as organizações e os profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho precisassem repensar suas práticas, olhando para os riscos a que esses trabalhadores remotos estão expostos e para medidas que evitem o seu adoecimento. Quem vivenciou esse formato de trabalho, garante que se deparou com novas demandas emocionais, além da necessidade de transformar um cômodo da casa em escritório e das adaptações físicas à nova realidade. Foi o caso da analista de compras gaúcha, Daiane Pacheco (foto ao lado), de 31 anos, que ingressou em um novo emprego na área de compras de uma instituição financeira em plena fase de isolamento social. “Passei onze meses sem conhecer os meus colegas pessoalmente. Me sentia insegura, sozinha, um pouco deslocada, não conseguia me soltar muito, mesmo tendo toda a estrutura e rotinas de reuniões e até momentos de descontração on-line”, recorda. A empresa onde Daiane trabalha, ela garante, sempre forneceu todas as condições, com equipamentos eletrônicos, cadeira, ginástica laboral, oferta de psicólogo e nutricionista on-line e, sem custo, para os colaboradores. Esse suporte, diz ela, ajudou a enfrentar o período e a se sentir mais preparada para a realidade de jornada híbrida que a empresa passou a adotar após o isolamento imposto pela Covid.

Antes da pandemia da Covid-19 assolar o mundo, a realidade do home office no Brasil era mais tímida. Uma pesquisa do IBGE indica que o recorde de brasileiros que trabalhavam dentro de casa no país havia sido atingido no ano de 2018, quando 3,8 milhões de brasileiros exerciam suas atividades remotamente. Na época, tratou-se do maior contingente de pessoas nesta condição de trabalho já registrado – resultado da alta informalidade.

A partir de 2020, outro cenário: a necessidade de manter a integridade física durante a pandemia, acabou exigindo, com muita celeridade, que o número de profissionais no ambiente domiciliar desse um salto. A mestre em Educação, doutoranda em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná, Evelise Dias Antunes, afirma que não era possível estar preparado, afinal, nunca na história houve quantidade tão expressiva de pessoas teletrabalhando. “Foi um desafio mundial, tanto para as empresas quanto para os trabalhadores, do dia para a noite ter de trabalhar de casa, com toda família trabalhando ou estudando no mesmo espaço. Os ambientes domiciliares foram adaptados, não preparados. A modalidade adotada foi em tempo integral, até mesmo em trabalhos não considerados possíveis anteriormente, como a telemedicina”, lembrou Evelise, autora da tese de doutorado ‘Teletrabalho: o novo lócus de trabalho pós-pandêmico? Uma perspectiva transnacional da política e o caso da implementação na Justiça Federal Brasileira antes e durante a pandemia de Covid-19’. A mudança brusca de modalidade também ocorreu sem a devida organização e preparo para a nova realidade, como analisa a fisioterapeuta, pós-graduada em ergonomia, especialista em Engenharia de Produção, docente universitária e diretora técnica da Soma Ergonomia, Ana Thais de Souza Stoco. “Condições como adaptação do ambiente domiciliar, adequação dos equipamentos e mobiliários para o trabalho, investigação e avaliação da maturidade, competência e autonomia dos trabalhadores para a atividade remota independente foram deixadas de lado”, destacou, complementando que este cenário de despreparo se deu pela demanda emergencial, e principalmente pela inexperiência e desconhecimento técnico das empresas em relação ao trabalho remoto.

 

CONTEXTO
Houve ainda, outro agravante, como pontua a tecnologista da Fundacentro, com formação em Psicologia (Unesp-Assis) e Direito (Mackenzie), mestre em Saúde Pública (FSP–USP) e doutoranda em Saúde Pública (FSP-USP), Daniela Sanches Tavares. “A implantação foi unilateral, ou seja, os trabalhadores, enquanto categoria, não participaram do desenho desse processo. Havia ainda um contexto social, econômico e político tanto anterior como na vigência da pandemia, de desconstrução dos direitos trabalhistas e de informalização da economia. É preciso lembrar disso. Caso contrário, podemos atribuir erroneamente alguns dos problemas que vemos hoje no trabalho remoto à tecnologia da informação, que possibilitou o trabalho remoto”, chamou a atenção. A tecnóloga destacou que, no momento atual “precisamos rever o pacto do trabalho remoto, superar esse modelo projetado unilateralmente que intensifica o trabalho e sobrecarrega as pessoas, para um pacto negociado”.

E essa necessidade se faz imediata. Mesmo que o efeito provocado pela pandemia em 2020 tenha passado, a configuração do trabalho mudou. Para as empresas, um dos desafios está em entender o formato adequado para sua operação, seja totalmente presencial, remoto ou híbrido, que compreende parte do trabalho feito em casa e parte dentro da empresa. “Uma coisa é certa, trata-se de experimentação, não há um manual prático de gestão remota, de gestão híbrida, simplesmente porque não há manuais em tempo de incerteza, acabaram-se os manuais”, alertou a facilitadora, designer organizacional e de aprendizagem voltada ao desenvolvimento humano, mudança e cultura organizacional para líderes nas organizações, Patrizia Bittencourt.

Nas interações que vem acompanhando nos atendimentos a empresas e líderes que realiza, Patrizia garante que são muitas angústias e também alegrias do trabalho remoto. Todos, de acordo com ela, estão sentindo os efeitos de não mais sair para trabalhar e ficar 100% do seu tempo em casa; ou de ter que sair alguns dias da semana, outros não, na gestão híbrida. “Por exemplo, as pessoas que trabalham com plantões, quando estão no presencial, numa escala mensal que muda frequentemente, sentem dificuldade de se organizar. Quando estão trabalhando em casa, enfrentam os limites do trabalho de casa e com a família pelo excesso de horas no trabalho funcional’, detalha.

 

COMO PROCEDER
Além de todo o cenário de adaptações exigido dos trabalhadores em relação à rotina de trabalhar de forma remota ou híbrida, há outras questões práticas que envolvem a familiaridade com as ferramentas de comunicação, apontado, de acordo com o engenheiro de Segurança do Trabalho e diretor da Laboral – Saúde e Segurança do Trabalho, Jorge Chahoud, como obstáculo por algumas empresas, assim como o comportamento dos funcionários ao acessarem os ambientes virtuais. “A atuação das áreas de tecnologia da informação foi um ponto levantado como dificuldade pelas organizações. Poucas também ofereceram suporte material aos funcionários para implantação do teletrabalho. O home office tem que ter tudo aquilo que está presente em um ambiente corporativo. Ou seja, que a estrutura seja reproduzida em casa”, opina. Embora a legislação trabalhista tenha regulamentado o trabalho remoto (veja no box Modalidade e legislação), ainda não há no país orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à segurança e saúde do trabalhador neste formato. Em fevereiro deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) eaOIT (Organização Internacional do Trabalho) publicaram um novo resumo técnico (https://bit.ly/3dP-goTH) sobre teletrabalho saudável e seguro. O documento fornece informações sobre o impacto do teletrabalho na saúde e orientações sobre como

 

MODALIDADE E LEGISLAÇÃO

Em meio à pandemia, em dezembro de 2020, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) produziu a cartilha educativa on-line Teletrabalho – O trabalho de onde você estiver, que detalha, por exemplo, o conceito de teletrabalho. O trabalho remoto é quando as tarefas são realizadas fora das dependências da empresa, usando recursos tecnológicos, como notebooks, celulares ou tablets. Ele pode ser realizado na residência do profissional ou não. É possível teletrabalho em um hotel em viagem a trabalho, por exemplo. Já o home office é um trabalho remoto realizado em casa. Além de abordar os direitos relacionados à modalidade, o material também traz dicas de produtividade e de saúde para o trabalho remoto. A cartilha sinaliza que é de responsabilidade do empregador instruir os empregados quanto às precauções para evitar doenças e acidentes de trabalho no regime de teletrabalho. Por sua vez, o empregado deverá assinar termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir as instruções fornecidas pelo empregador. Também traz informações sobre saúde e ergonomia, indicando como o mobiliário deve ser adequado para o trabalho em casa, assim como cuidados com a iluminação e posição correta dos braços, coluna, pés, cabeça e pescoço, além da necessidade de repouso ocular e exercícios laborais durante a jornada.

NA LEI
O trabalho a distância foi inserido pela primeira vez na legislação trabalhista em 2011, pela Lei 12.551, que alterou a redação do artigo 6º da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) para incluir essa modalidade. Em 2017, a reforma trabalhista (Lei 13.467) regulamentou melhor o assunto, trazendo um novo capítulo à CLT dedicado ao tema. Em 2020, por conta da pandemia, a Medida Provisória 927 permitiu a alteração do regime de trabalho presencial para o teletrabalho independentemente de acordos individuais ou coletivos e dispensou o registro prévio da alteração no contrato individual de trabalho. A MP teve vigência até 19 de julho do mesmo ano.

organizar o trabalho remoto para proteger e promover a saúde física e mental dos trabalhadores. O relatório cita também uma série de vantagens e desvantagens da modalidade laboral.

Entre os benefícios apontados estão um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal; oportunidades para horários de trabalho flexíveis e mais atividade física; redução do trânsito e do tempo de deslocamento; e uma diminuição da poluição do ar nas áreas urbanas. Tudo isso pode melhorar a saúde física e mental e o bem-estar social. Além disso, o teletrabalho também pode levar a uma maior produtividade e a menores custos operacionais para muitas empresas. No entanto, o relatório alerta que, sem planejamento adequado, organização e suporte de saúde e segurança, o teletrabalho pode levar a sentimentos de isolamento, esgotamento, depressão, cansaço visual, aumento do consumo de álcool e ganho de peso.

 

Equilíbrio necessário

Exigências físicas, organizacionais e cognitivas desafiam trabalhadores

Até o início da pandemia, a maioria das empresas e instituições públicas no país tinha, como padrão, a cultura do trabalho presencial. “Havia dúvidas sobre a produtividade e a qualidade do trabalho realizado a partir de casa”, afirmou a mestre em Educação, doutoranda em Saúde Pública na Universidade de São Paulo e professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná, Evelise Dias Antunes. Por este motivo, empresas e trabalhadores foram pegos de surpresa quando a pandemia impôs este novo formato. Não tardou para que os problemas aparecessem.

As pesquisas, conforme Daniela Sanches Tavares, tecnologista da Fundacentro, com formação em Psicologia (Unesp-Assis) e Direito (Mackenzie), mestre e doutoranda em Saúde Pública (FSP-USP), mostram que o trabalho remoto durante a pandemia foi descrito como tendo maior duração de jornada, maior número de dias de trabalho por semana, ritmo mais acelerado, com metas de produtividade mais altas, invasão do tempo extra-trabalho (pelo uso de whatsapp e outros recursos), além do aumento de dores. “Os riscos são principalmente de adoecimento mental, adoecimento musculoesquelético, além dos cardiovasculares, intimamente relacionados ao estresse. Não se pode desprezar os riscos de impactos na saúde ocular pela constância das telas. Ou seja, é preciso regulamentar para proteger o tempo extra-jornada e para barrar a intensificação do trabalho”, afirmou.

Evelise completa lembrando que a análise do teletrabalho é complexa e os benefícios dependem de uma série de variáveis relacionadas à organização, às características do trabalho, aos fatores individuais, domésticos e familiares. Motivada por perceber que, ainda antes da pandemia, o teletrabalho tinha pouco destaque na saúde do trabalhador e que era uma tendência no mundo do trabalho, ela escolheu o tema para sua tese de doutorado, orientada pela professora Frida Marina Fischer. A pesquisa objetivou analisar os impactos da pandemia de Covid-19 na política transnacional do teletrabalho e sua implementação na Justiça Federal Brasileira. Trata-se de uma abordagem qualitativa, que compreendeu uma revisão sistemática, análises documentais e um estudo de caso de uma seção da Justiça Federal, com a utilização de documentos institucionais e entrevistas. A pesquisa permitiu que Evelise identificasse os principais agravos do teletrabalho em relação aos aspectos psicossociais e à organização do trabalho antes e durante a pandemia. De acordo com ela, foi possível identificar como fatores de risco psicossociais as exigências emocionais (sofrimento no trabalho, medo da doença, assédio), os conflitos entre família e trabalho, interrupções, aumento do número de horas, dias e ritmo de trabalho. “Também, recentemente identificados e intensificados pela pandemia, a presença da telepressão e do tecnoestresse, e novos fenômenos batizados como zoom fatigue (fadiga pelo uso de plataformas de comunicação) e dismorfia do zoom (imagem distorcida de si mesmos na tela)”, detalhou. Conforme a docente, a desorganização temporal e a extensão das jornadas de trabalho geraram um sentimento e uma expectativa dos trabalhadores de “estarem sempre disponíveis”, promovido pela invasão das ferramentas de comunicação e interação on-line. “A mudança na comunicação entre os colegas de trabalho passou a se dar no espaço formal, nas plataformas, ligações, mensagens, ferramentas que não foram pensadas para os processos de cooperação e aprendizado coletivos, levando a um sentido de desumanização do trabalho. O espaço informal deixou de existir, assim como a interação face-a-face. Findou-se a hora do cafezinho, um dos momentos que permitia o alívio das tensões organizacionais e o compartilhamento de conhecimento, para além da socialização tão necessária ao fazer do trabalho”, justifica.

 

PILARES DO STRESS
Do ponto de vista organizacional, o trabalho em home office é analisado pelo médico do Trabalho de uma multinacional, aluno de Especializa-ção em Inteligência Artificial pela Universidade de Helsinki/Finlândia e estudante da NEBOSH (National Examination Board in Occupational Safety and Health) pela Sociedade Real de Prevenção de Acidentes, Glauco Callia, utilizando como base o método de Manejo de Stress Organizacional, desenvolvido pelo HSE (Health and Safety Executive). O modelo é composto por um questionário aplicado às equipes e o resultado do algoritmo divide a experiência do stress em sete pilares: Demandas, Controle, Suporte de Pares, Suporte de Líderes, Comunicação, Propósito e Relacionamento. Trabalhando com o método no Brasil desde 2016, o médico teve a oportunidade de observar as variações nos indicadores durante a pandemia e, também, de estudar o comportamento de equipes híbridas, totalmente em home office e presenciais no contexto de uma grande farmacêutica europeia que mantém o método em funcionamento para mais de 17 países.

Em relação às Demandas, durante a pandemia, Callia conta que observou um aumento de 20% no indicador de desempenho KPI (Key Performance Indicators) de demandas, demonstrando que houve um claro aumento na carga de trabalho imputada ao funcionário em teletrabalho. “Isto se dá pela pressão sentida pelo trabalhador em demonstrar que está produzindo mesmo em ambiente doméstico. Observei este comportamento mais acentuado em países de cultura latina, provavelmente pelo fator histórico colonial que ainda impregna as relações de trabalho nestes países”, detalhou. Sobre o pilar do Controle, na visão do médico do Trabalho, este é um dos temas mais polêmicos já que, na sua opinião, os ambientes corporativos, principalmente com o advento do home office, têm se tornado cada dia mais agressivos na literal tentativa de controlar a rotina e a carga de trabalho dos funcionários.

“Isto também se observa no aumento de cursos de compliance, aumento dos níveis de aprovação e retirada da autonomia dos funcionários, sendo este fenômeno observado até nos níveis de diretoria. Obviamente o que contribuiu para isso também foi a elevação do número de golpes virtuais durante a pandemia favorecidos pelo mundo virtual, levando a uma reação das equipes de TI, que numa tentativa de defender as corporações, acabou quadruplicando o número de autorizações e atualizações necessárias para se inicializar um computador. Esta demanda foi obviamente adicionada à carga de trabalho do funcionário”, contextualizou Callia.

 

ERGONOMIA
Além de identificar melhorias em outros indicadores e visualizar no Suporte de Lideranças o principal fator de proteção para uma equipe, Callia afirma que do ponto de vista ergonômico, os riscos mais gritantes são os posturais, com ambientes de home office improvisados durante a pandemia, seguidos de uma não adequação correta no pós-pandemia. Esse quadro, de acordo com o médico do Trabalho, levou a um aumento na incidência de doenças osteomusculares em ombro, coluna cervical e coluna lombar em populações onde ele não costumava notar este comportamento epidemiológico. “Tenho observado também tendinites de membro superior. Queixas como dor de cabeça e déficit visual pelo tempo de exposição à tela também têm sido amplamente relatadas na literatura”, detalhou.

Uma análise feita por sua equipe durante a pandemia em mais de 13 países, auxiliada pelo uso de dispositivos de controle de passos revelou que, em 2019, uma pessoa trabalhando em ambiente de escritório dava, em média, sete mil passos por dia. Nos primeiros três meses do isolamento, esta média caiu para 1 mil passos. “Ou seja, a movimentação das pessoas ao saírem de suas mesas/ambientes de trabalho para comparecerem a reuniões, se deslocarem ou mesmo tomarem um café caiu sete vezes durante a pandemia”, concluiu.

No ambiente domiciliar, a fisioterapeuta, pós-graduada em ergonomia, especialista em Engenharia de Produção, docente universitária e diretora técnica da Soma Ergonomia, Ana Thais de Souza Stoco, salienta que os focos a serem ajustados, levando em conta que o trabalho deverá ser realizado em sintonia com as demandas sócio familiares, são os fatores ergonômicos organizacionais, biomecânicos, cognitivos e psicossociais. Conforme ela, uma das obrigações legais da atividade em teletrabalho, é o controle da jornada de trabalho, obrigatoriamente realizado pela empresa. Desta forma, fatores ergonômicos organizacionais passam a ser uma necessidade no ambiente remoto.

“Políticas de organização previamente estipuladas deverão estar pontuadas no formato de OS (Ordens de Serviço), com definições claras de horário e rotina de trabalho, vestimentas adequadas estabelecidas pela empresa, orientações de hábitos de higiene, do preparo do ambiente profissional para o trabalho, as metas de pausas ergonômicas, para o café ou de descanso, pausas de refeição, bem como orientações ergonômicas de organização do ambiente de trabalho (ventilação, iluminação, temperatura e os ruídos gerados pela demanda domiciliar)”, indica. Referente aos fatores ergonômicos biomecânicos, conforme Thais, a meta é adequar o posto de trabalho residencial, referente ao mobiliário (mesa e cadeira) e os equipamentos de trabalho, nas conformidades previstas na NR 17 (Ergonomia).

“O desafio é que o trabalhador, mesmo em condição domiciliar, permaneça com bom alinhamento postural e sem sobrecargas, principalmente das regiões de coluna vertebral e membros superiores, adequando desta forma, os mobiliários domésticos ou fornecidos pela empresa”, apontou. Já pensando nas políticas preventivas para fatores ergonômicos cognitivos e psicossociais do trabalho remoto, o foco, na visão de Thais, será na gestão das competências: da auto responsabilidade, da avaliação e desenvolvimento da maturidade dos profissionais, da habilidade de comunicação, e do desenvolvimento da autonomia profissional e do feedback.

“Na modalidade de trabalho home office ou híbrido, o sentimento primordial dos trabalhadores deverá ser de pertencimento à organização e, para isso, a gestão das competências citadas passa a ser fundamental, caso contrário, a sensação será de abandono, isolamento e esquecimento. Cuidar, observar, monitorar, instruir, acolher, treinar, escutar e reciclar passam a ser demandas diárias necessárias no processo de gestão do trabalho remoto”, completou.

 

EXPERIÊNCIA
Mesmo empresas que já tinham o teletrabalho como realidade, precisaram se adaptar a partir de 2020. Foi o caso da Procter & Gamble, que desde 2009 já praticava essa modalidade, mas a partir da pandemia viu praticamente cem por cento do escritório operar todos os dias de forma remota. Nas fábricas, apenas o administrativo migrou para este formato laboral. Médico do Trabalho e gerente médico sênior da P&G, Fernando Akio Mariya, afirma que sua experiência permite identificar que o teletrabalho, além dos distúrbios osteomusculares em razão de posturas ou mobiliário inadequado, traz os transtornos mentais relacionados ao trabalho.

“Isso porque os trabalhadores estão com maior demanda de trabalho, existe o distanciamento físico das lideranças e a queda no suporte por conta do distanciamento”, elenca. Por isso, a empresa abriu um canal de comunicação entre os trabalhadores, o Departamento Médico e o de Segurança do Trabalho. “Esse canal é sigiloso e confidencial. As pessoas podem tirar suas dúvidas, solicitar ajuda e fazer denúncias que são investigadas. Os trabalhadores precisam se sentir seguros e confiar no Departamento de Segurança e Saúde do Trabalhador para que ocorra maior engajamento aos programas de prevenção”, defende.

Para vencer o desafio de conseguir um trabalho seguro e saudável na residência dos trabalhadores, em 2020, a organização promoveu um treinamento para que as pessoas pudessem trabalhar com ergonomia em suas residências. “A equipe de Segurança do Trabalho avaliou por videoconferência os postos de trabalho de praticamente cem por cento dos trabalhadores administrativos e nesse mapeamento foram definidos quais equipamentos cada pessoa precisava ter para executar suas tarefas de forma segura”, recorda. Mariya afirma que a empresa subsidiou a aquisição de 80% do valor dos equipamentos, como mesa, cadeira, monitor, teclado e mouse sem fio, fones, mousepads, suporte para monitor /laptop e apoio para os pés. “O trabalhador escolhe o equipamento de acordo com a arquitetura de sua casa e com o aval da equipe de segurança do trabalhador e esses equipamentos passaram a ser patrimônio dos trabalhadores”, afirma. Além da questão das ferramentas adequadas para a execução do trabalho, o treinamento dos trabalhadores e da alta liderança foi um diferencial, na visão do especialista, para a prevenção de agravos à saúde. “O treinamento abordou posturas, como trabalhar com os equipamentos eletrônicos e a integração da vida pessoal e trabalho. Não é mais possível falar em equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, já que o trabalho invadiu a residência dos trabalhadores”, alerta.

Além de medidas práticas, ele também conta que essa realidade foi incluída na gestão de SST da P&G, com a criação de uma política de ergonomia em teletrabalho. “Fizemos uma live com a presidente Juliana Azevedo e a técnica de segurança da empresa, Jacqueline Santos, para explicar sobre a nova política e esclarecimentos de dúvidas. Também elaboramos uma plataforma de treinamento on-line e interativo para que as pessoas pudessem aprender sobre o teletrabalho com as diversas ferramentas, vídeos sobre ergonomia em home office e integração da vida pessoal e trabalho”, exemplifica.

 

CRITÉRIOS PARA UMA BOA GESTÃO DE RISCOS

Durante a organização de um espaço de trabalho adequado no domicílio, o profissional deve dar preferência para locais arejados, preferencialmente evitando o quarto, e com iluminação natural, optando por iluminação LED quando isto não for possível. Também deve procurar manter os horários de rotina adotados na empresa; utilizar cadeira com selo da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para manutenção de uma postura adequada e evitar trabalhar deitado em sofás ou em outro lugar.

As orientações são do engenheiro de Segurança do Trabalho e diretor da Laboral – Saúde e Segurança do Trabalho, Jorge Chahoud, que elenca o que o administrador do PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) das empresas, junto a sua equipe, deve estabelecer em relação aos critérios no contexto do teletrabalho. Confira as dicas:

Reuniões periódicas com os trabalhadores – Abordar questões sobre como ele está em casa; como está seu sistema de trabalho; se está sentindo alguma dificuldade; saúde física e mental; checklist do posto de trabalho com a webcam do trabalhador verificando como está a condição do seu posto; se possível contar com orientação de um profissional.

Carga de trabalho – Avaliar tarefas a serem realizadas (principal e secundárias); capacidade de exercer as tarefas; vigilância (percepção de fatores que prejudicam a atenção); ruído e iluminação adequados à atividade laborativa; organização do posto de trabalho.

Exigências posturais – Avaliar questões relacionadas à postura; posição das ferramentas de trabalho; espaço suficiente; posição natural; postura antinatural.

Mobiliário de trabalho – Avaliar questões relacionadas ao assento, mesa, notebook, apoio para os pés, postura ao sentar-se em frente ao computador.

Exigências musculares – Avaliar questões relacionadas a movimentos necessários, pausas e período na mesma posição, necessidade de suportes para as mãos ou cotovelos.

Percepção – Avaliar questões que possam interferir na realização das tarefas como iluminação, uso de instrumentos, vigilância (ruído e/ou atividade de outras pessoas) e habilidade (treinamento).

Ambiente – Observar sobre iluminação suficiente, iluminação artificial, contrastes excessivos na zona de trabalho, zona bem iluminada e em sombra, superfícies refletoras, fontes de luz – disposição, iluminação estável, cores empregadas no aposento ou na zona de atividade (acolhedoras e calmantes).

Ambiente climático interior -Temperatura do ambiente.

Conforto acústico – Observar se há ruído paralelo no ambiente e sua possível interferência com o trabalho mental, compreensão das conversações, possíveis perturbações.

Proteção – Observar se o arranjo do posto de trabalho pode induzir a riscos de acidente

Rotina – Avaliar em conjunto com o trabalhador aspectos como o tempo de dedicação à tarefa, se o trabalho é repetitivo, eventuais contatos sociais, qualidade do sono.

Pausas e hábitos alimentares -Definir com o trabalhador pausas oficiais, horário e a duração das pausas, bem como pausas curtas e pausas suplementares, e possibilidade de flexibilizar o horário.

Ref.: Revista Proteção, Saúde e Segurança do Trabalho (Digital): Trabalho Remoto – Estamos Preparados? Editora Proteção Publicações. Ed. 369, p. 15, setembro/2022.

Data da postagem:

Tags:

Postagens Recentes:

Fale conosco

Entre em contato. Nosso horário de atendimento é das 8 hs às 17 hs, no telefone: (11) 4584-6693.

Empresa

Prestação de serviços de assessoria, consultoria e treinamento nas áreas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional desde 1999.

Contato