Quais os impactos no bem-estar dos trabalhadores nesta nova conjuntura brasileira?
Com base no artigo de Mário César Ferreira (Pós-doutor em Ergonomia Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho pela Universidade Paris 1 Sorbonne – França), hoje no Brasil, a perda de direitos e os retrocessos caminham a passos largos e a questão da saúde e segurança no trabalho, fundamentais na Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), voltam a ser objeto de preocupação maior de todos que atuam na área.
Para o especialista, a QVT já estava em risco no cenário anterior, muitas vezes combalida e, em muitos casos, ausente dos ambientes de trabalho. Agora, ela deverá ser, ainda mais objeto de ataques e retrocessos. Ele afirma que, para melhor compreender os possíveis impactos em curso sobre o bem-estar no trabalho é importante resgatar os principais aspectos estruturantes do conceito de QVT, com base em resultados de suas pesquisas.
Primeiro é necessário compreender como os trabalhadores definem a QVT. Seus estudos mostram que há 2 (dois) eixos estruturantes deste conceito. Eles fornecem uma base empírica para se avaliar o agravamento da crise no mundo do trabalho atual no Brasil e suas possíveis repercussões para qualidade de vida nas organizações.
Um primeiro eixo estruturante e majoritário do conceito de QVT dos trabalhadores se expressa nos seguintes termos: há Qualidade de Vida no Trabalho quando o funcionamento da organização combina gestão humanizada, ambiente de trabalho saudável e desenvolvimento pessoal/profissional. Quando falam, por exemplo, sobre ‘Ambiente de Trabalho Saudável’, os trabalhadores enfatizam: as interações cooperativas, solidárias, cordiais, harmoniosas, confiáveis e respeitosas com chefias e colegas; a possibilidade de liberdade de expressão de ideias, opiniões; espírito de trabalho em equipe; condições de trabalho ergonômicas e seguras.
Um segundo eixo estruturante e coadjuvante do conceito de QVT dos trabalhadores se expressa nos seguintes termos: há Qualidade de Vida no Trabalho quando o trabalho é fonte de felicidade e proporciona sentido existencial positivo. Nesse caso, os sentimentos de prazer com o trabalho são fundamentais e se expressam por: sentir alegria, disposição, felicidade, satisfação e prazer com o trabalho realizado e o contexto organizacional (feliz consigo mesmo). Não apenas isto, mas também se sentir produtivo, compromissado, respeitado, reconhecido, recompensado, útil e em harmonia social (feliz com os outros).
Estes eixos estruturantes, vistos pelos trabalhadores, infelizmente são ameaçados por um conjunto de indicadores negativos crônicos, estruturais e históricos do mundo do trabalho, como por exemplo, acidentes e absenteísmo, e claro, pelos retrocessos em curso, como a reforma trabalhista e a terceirização desenfreada. Resguardadas as diferentes opiniões.
Uma questão fundamental então é que no cenário atual, a felicidade no trabalho se encontra em risco. O bem-estar no trabalho é um elemento inseparável da prática da produtividade saudável e protetora das pessoas nos ambientes de trabalho.
Ref.: Revista Proteção, Saúde e Segurança do Trabalho. Ser feliz no trabalho. Por Mário César Ferreira. Pós-doutor em Ergonomia Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho pela Universidade Paris 1 Sorbonne (França). Editora Proteção Publicações. Ed. 312, p. 93, Dezembro/2017.