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Potencial gigantesco

Potencial gigantesco

Presidente da Animaseg vê ampla possibilidade de crescimento do mercado de EPI mas alerta para novas exigências

Entrevista à jornalista Daniela Bossle

O presidente da maior entidade de EPI da América Latina, a Animaseg (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho) por duas gestões seguidas e nos dois anos anteriores como interino, José Geraldo Brasil, deve deixar o cargo neste ano. De acordo com o estatuto da entidade, é preciso escolher um novo líder e as eleições devem acontecer em outubro.

Na entrevista, concedida durante sua palestra no Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos em Novo Hamburgo/RS, José Geraldo falou à Proteção sobre o papel da Animaseg na evolução dos Equipamentos de Proteção Individual no país, os turbulentos anos de pandemia e a contribuição do setor neste período, o novo processo de certificação de EPI para melhorar a qualidade dos produtos, mas cujo prazo para começar está tirando o sono dos fabricantes, e ainda como enxerga o futuro do setor. “O mercado potencial de EPI é gigante, mas há grande preocupação com a governança das empresas. Assim como a Animaseg se preocupou ao longo do tempo com a saúde e segurança do trabalhador, com a criação, adequação e atualização das normas técnicas, agora precisamos estar atentos também à sustentabilidade e à longevidade das empresas fabricantes de EPI”, alerta.

Geraldo tem 70 anos, é também presidente e fundador da JGB Equipamentos de Segurança, que nasceu há 38 anos e é fruto de seu trabalho de conclusão de curso em Administração de Empresas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A Animaseg completou 45 anos recentemente. Qual a importância da entidade para o mercado brasileiro de Equipamentos de Proteção IndividualUma entidade para chegar nos seus 45 anos com jovialidade, energia e com as entregas que ela faz para o seu cluster tem que agregar muito valor. Ela nasceu em 1978 e desde então vem contribuindo com o segmento de Equipamento de Proteção Individual que no Brasil e no mundo tem muita movimentação. É um setor totalmente regulamentado, ou seja, vender EPI sem CA é crime pela CLT. A Animaseg veio de uma época em que não tinha praticamente norma nenhuma, em que as empresas iam se desenvolvendo e simplesmente produzindo. Mas, em 1992, se eu não me engano, a entidade já demonstrava sua preocupação com as normas que eram ainda muito antigas e desatualizadas. Diante disto ela criou e passou a nuclear o CB 32 – Comitê Brasileiro de Equipamentos de Proteção Individual e a partir de então introduziu os comitês setoriais para desenvolver e revisar normas específicas fazendo com que os EPIs brasileiros pudessem ser todos desenvolvidos com base em normas. Os EPIs que não tinham normas começamos a construí–las para poder preparar as empresas para o futuro que seria mais exigente em relação aos equipamentos. Hoje o CB 32 tem quase 30 comitês de estudo com especialistas de todas as áreas para estudar os riscos e as possibilidades de barreiras dos equipamentos e questões científicas mais aprofundadas.

Como o senhor avalia a evolução do mercado de EPI nestes últimos 20 anos? O mercado passou a evoluir a partir do momento em que a Animaseg nucleou o CB 32. Houve crescimento das exigências do mercado, evolução das legislações brasileiras em relação ao Equipamento de Proteção Individual, e as empresas foram se organizando para proteger seus trabalhadores de acidentes de doenças ocupacionais e tantos outros riscos dos ambientes de trabalho. As transformações nos últimos 20 anos foram gigantes e a Animaseg teve um papel extremamente importante na preparação dos fabricantes de diferentes segmentos de EPI para acompanhar as novas legislações e em muitos momentos para, inclusive, se antecipar à legislação em favor da preservação da vida e da saúde das pessoas no ambiente de trabalho. A Associação vem disponibilizando informações do setor público em parceria com o próprio Ministério do Trabalho à época e hoje novamente está discutindo junto ao MTE a evolução das normas e das leis, a proteção dos trabalhadores, os meios para acelerar determinados cuidados em relação à fiscalização da qualidade do EPI. E também trabalhamos tremendamente com a questão do descarte e o aspecto ambiental do equipamento.

A preocupação com a questão ambiental também vem norteando a atuação da entidade? É enorme esta preocupação porque hoje a questão ambiental, de energia, da evolução dos postos do trabalho, da sustentabilidade precisa também de atenção. Mas não é só isso: a governança e a longevidade das empresas é outro ponto fundamental. Se olharmos lá atrás quando a Animaseg nasceu, em 1978, havia 35 empresas que redigiram a ata da fundação, o estatuto e criaram esta Associação que nós estamos aqui falando. Se você for olhar hoje, daquelas 35, só sobraram duas empresas – que são multinacionais. Todas as empresas nacionais que estavam lá na época tinham nome, eram grandes e tinham relevância no segmento de Segurança e Saúde no Trabalho. Só que nenhuma delas hoje existe mais. Então também há um ponto de preocupação da entidade com relação à governança das empresas. Assim como a Animaseg se preocupou ao longo do tempo com a saúde e a segurança do trabalhador, com a criação, adequação e atualização das normas técnicas, com os comitês setoriais para estudar os tipos de equipamentos necessários para mitigar determinados riscos, agora precisamos estar atentos também para a questão da sustentabilidade. É o chamado ESG (Environmental, Social and Governance) e para isso a entidade e o nosso diretor executivo, o Raul, tem viajado para feiras internacionais e de Meio Ambiente para entender qual será o futuro dos EPIs, como vai funcionar a indústria reversa, como temos que nos adequar ao mundo que produz, mas que também cuida da natureza. Vem agora também um alerta sobre a longevidade das empresas fabricantes de Equipamentos de Proteção Individual.

Houve também vários fatores que podem ter influenciado no declínio destas empresas como a abertura de mercado nos anos 1990, por exemplo? Sim, a abertura de mercado e uma série de outros movimentos. O próprio Governo através do Ministério do Trabalho e CGNOR [Coordenação Geral de Normalização e Regulamento], também veio se modernizando. Assim como a questão do CA, antigamente tinha o CA por responsabilidade, não tinha norma para todos. A própria Animaseg veio trabalhando isso junto ao mercado entendendo que o CA por responsabilidade teria que ter vida muito curta, mas a gente teria que ter, não só normas, mas laboratórios que pudessem fazer ensaios. Hoje queremos muito mais: não só laboratório que faça o ensaio e que nos entregue o laudo para fazer CA. A gente quer parque tecnológico que nos permita pesquisar, desenvolver tecnologia, que a gente possa utilizar esses parques para proporcionar o crescimento das empresas e do setor como um todo. Então a Animaseg também se ocupou de uma forma muito forte no estímulo, na orientação e no acompanhamento do crescimento desse parque tecnológico. E hoje nós estamos aqui sentados em um deles, que é o IBTeC [Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos], que não pensava em Equipamento de Proteção Individual. Hoje o Instituto é uma das forças que nós temos, não no Brasil e na América Latina, mas no mundo, também em Equipamentos de Proteção Individual, e que tem um potencial de crescimento enorme. E nós precisamos disto e atuamos junto ao Ministério do Trabalho pedindo que olhem para o parque tecnológico brasileiro.

A Portaria 672 publicada pelo MTE no final de 2021 e que sofreu alterações em sua redação durante o ano de 2022 trouxe mudanças na certificação de EPI. Quais são os desafios deste novo processo previsto para iniciar no final deste ano? Sim, mas vamos um pouquinho para trás. Há uns 15 anos entendemos que alguns equipamentos teriam que ter um controle maior do que simplesmente o CA porque muitas vezes as empresas obtinham o Certificado e daqui a pouco entregavam alguns produtos que não eram iguais ao que foi ensaiado. Acontece até hoje, mas com menos frequência. Em resposta a isto surgiu, na época, o sistema Inmetro em que alguns equipamentos – eram cinco – foram vinculados ao Inmetro. No decorrer do caminho notamos que o sistema era bom, mas era muito lento e não agregava valor. Então começamos, através da Animaseg, a discutir com o setor responsável do Ministério do Trabalho sobre as dificuldades que as empresas vinham tendo com o sistema Inmetro, com as RACs, com as OCPs que não estavam funcionando como a gente imaginava. O Ministério do Trabalho, então, por meio do CGNOR e junto com a Animaseg, começou a pensar numa alternativa que pudesse ser tão ou mais eficiente do que o sistema Inmetro. Seria um sistema similar, mas capitaneado pelo próprio MTE. Mas para isso precisaria realmente do apoio do setor através da Animaseg para construir esse projeto que viraria um novo processo, que é o que desaguou nessa Portaria 672, que trouxe um sistema que seria mais ou menos nos moldes da série CE Mark adotada na União Europeia.

E então quais os desafios para a adoção do que prevê a Portaria 672? Neste meio tempo veio um novo Governo que ainda não entendeu ou ainda está entendendo todos os aspectos envolvidos, e há cerca de um mês informou que o prazo para ela entrar em vigor será a partir de 10 de dezembro deste ano. Importante dizer que esta Portaria tem por princípio modernizar o mercado brasileiro no sentido de aumentar os controles de qualidade dos equipamentos. Ela é muito completa, com OCPs, detalhamentos de ensaios, auditorias, enfim, todo um processo bem estruturado e elaborado. Só que temos algumas preocupações, uma delas é a questão da inovação e do crescimento porque ela não pode ‘amarrar’ demais, não pode engessar. Se tu ‘amarra’ demais num mundo 4.0 onde as tecnologias e a velocidade são enormes como é que fica o crescimento da indústria de Equipamentos de Proteção Individual? Esta é uma preocupação nossa: que as normas e portarias permitam criar um ambiente de inovação sem limitações.

E a outra preocupação qual seria?
A outra é a capacidade de implantação. A Animaseg como sempre faz, colaborou com o Governo, foi conversar com os responsáveis pelo cumprimento da Portaria.E o pessoal do MTE fez uma escuta, uma conversa com todo o setor e depois reunimos nossos associados e avaliamos na íntegra a Portaria para saber o que eles têm condições de implantar até a data prevista pelo Governo e o que não é possível. Então elaboramos um documento para mostrar ao Ministério do Trabalho que da forma como está prevista, não temos condições. Não tem laboratório suficiente, não tem OCP suficiente, as empresas não têm capacidade para se estruturar com a velocidade que eles determinaram e o custo para essa transformação é muito grande – vai aumentar consideravelmente o custo de Certificação do

EPI. Ela é muito legal, mas tem que ter um prazo um pouco melhor organizado.

Esse documento já foi entregue?
Sim, este documento está com o Ministério do Trabalho, entregamos agora no mês de maio. Eles estão avaliando de forma que a gente possa, então, fazer a sua implantação, mas de um modo realmente sustentável. Do contrário, teremos uma lei, uma obrigação, mas não haverá um ambiente, uma infraestrutura capaz de fazer com que isso aconteça. Aí pode virar uma desorganização, uma confusão no mercado.E a Animaseg tem muita clareza com relação a isto, sempre teve um bom entendimento com o setor público, especialmente com o MTE e o CGNOR, e é nisso que estamos também trabalhando. Fizemos reuniões setoriais com os fabricantes de EPIs entre abril e maio para discutir tudo isto, elaborar o documento e

entregá-lo. Estamos programando uma ida ao Ministério do Trabalho para conversar, nos colocarmos a disposição para colaborar naquilo que é melhor para o nosso país, para os nossos usuários, para os nossos fabricantes e para quem realmente investe em Equipamento de Proteção Individual.

Mesmo que este prazo extra seja obtido junto ao Governo de que forma as empresas já podem começar a se ajustar a este novo modus operandi que terá de ser atendido no futuro? A ponderação do setor é para que seja feita uma adequação dentro da capacidade do ambiente como um todo: laboratórios, empresas, OCPs e do próprio Governo que não tem braço para emitir tanto CA em tão pouco tempo. Fizemos um levantamento do volume de coisas que tem para fazer e capital de giro para essas empresas. Um outro ponto é o modelo de governança de cada empresa. As empresas que já têm um sistema de qualidade bem estruturado, aquelas que já são certificadas pela ISO 9001 ou até mesmo ISO 14000, talvez terão um pouquinho mais de facilidade porque já estão acostumadas com auditorias; o sistema está estruturado, é só fazer adequações. Mas mesmo estas, e nós estamos estudando isso na minha empresa, terão processos novos que envolvem a área da qualidade, da engenharia, de processos… Elas vão sofrer auditoria de linha de produção ou auditoria de produto ou auditoria do sistema como um todo dependendo do risco. Quando se tratar do risco de bombeiro ou arco elétrico serão auditorias completas.

Essas empresas têm que se adequar inclusive no seu processo de governança interna. Então, não é uma coisa simples. Além disso, não podemos nos descuidar da sustentabilidade do EPI. A Portaria não fala disto, mas esta será uma demanda do próprio usuário. Não é mais a empresa que compra o equipamento que vai exigir, e sim o próprio trabalhador vai querer entender quais são as práticas de sustentabilidade que este fornecedor faz com o EPI que ele está usando. Esse é um ponto também importante dentro desse contexto todo e quem não estiver tão atento vai ter que correr muito procurando entender como é que descarta, como é que transforma esse produto em um outro material sustentável. A mentalidade do empresário fabricante de EPI no Brasil mudou e quem não mudou vai ter muita dificuldade pela frente.

Vamos falar um pouco da expansão para além do mercado interno? Quais as ações hoje da Animaseg neste sentido? A Animaseg tem o programa Brazilian Safety que é uma parceria com a Apex, mas também é financiado pelas empresas que participam do programa. Temos participado da feira na Alemanha, a A+A, que eu considero a ‘olimpíada de segurança’ do mundo. Quem vai para lá tem uma visão global das tendências. Temos um programa na América Latina com rodadas de negócios, feiras presenciais e visitas a clientes e grandes distribuidores, e isso tem dado uma repercussão enorme também. A Animaseg hoje é conhecida na América Latina inteira, é uma entidade que também contribui com seus países vizinhos. Ela está, não só com suas empresas associadas levando seus produtos, mas também levando informação como normas para as empresas e entidades destes países. Hoje o CA é aceito em boa parte dos países latino-americanos e este é um trabalho que a Animaseg tem feito com o Ministério do Trabalho destes países. São EPIs que têm o CA, que passam por laudos, passam pela certificação brasileira e são aceitos hoje em muitos países da América Latina. A própria pandemia trouxe uma consciência muito clara de que o EPI salva vidas. Eu costumo usar uma metáfora: você faz esporte pensando

na expansão do seu tempo de vida, e muitas vezes no trabalho você, em muitos casos, pensa na diminuição do seu tempo de vida. Isto é passado, as coisas mudaram. Hoje a gente vê que o EPI assim como os equipamentos que usamos no esporte funcionam para alongar a vida das pessoas. Hoje as pessoas têm que ter orgulho e prazer de estar usando EPI para se proteger. É um equipamento que precisa estar de acordo com o risco e que seja confortável. Se trabalha muito também no design e visual dos equipamentos para que cada vez mais o trabalhador entenda que ele usa o EPI, não para ser a última barreira na proteção do risco, mas sim para proteger a sua vida.

Há ainda espaço para o crescimento deste mercado? Entendemos que o mercado potencial de EPI no país é enorme. O Brasil deve estar consumindo hoje, exagerando, 30% dos 100% que deveria estar consumindo. Se o país tem um mercado consumidor de EPI de quase 20 bilhões por ano e se isso é 30%, então imagina o tamanho deste mercado. O Brasil em relação ao mundo representa 6% do mercado. Estados Unidos, se eu não me engano, é 33%, a Europa é 20%, a Ásia Pacífica mais 20%, o Brasil com 6% e o restante da América Latina com 5% e os países do Oriente Médio com cerca de 4% ou 5%. Somos o mercado que hoje tem maior potencial de crescimento, podemos triplicar o faturamento de Equipamento de Proteção Individual. E muito mais do que uma projeção geométrica: podemos melhorar a saúde da sociedade em geral, não só do trabalhador. O ganho da Seguridade Social

se tornaria gigante porque quantos acidentes acontecem em casa por não se usar EPI e essas pessoas vão acabar se aposentando por invalidez. Essa orientação, treinamento e um movimento enorme que a Animaseg está pensando junto com outros players pode resultar numa grande economia ao Governo. Se nós aumentamos de 20 para 60 bilhões o consumo de EPI, certamente serão trilhões de economia que o Governo vai ter e a qualidade de vida das pessoas também vai ser muito melhor.

O senhor gostaria de fazer algum comentário final? O mundo do Equipamento de Proteção Individual assim como tantos outros produtos estão se valendo cada vez mais da robótica, da inteligência artificial, de uma série de mecanismos de automação. O EPI tende a ficar cada vez mais interativo. É como a direção de um carro. Antigamente você só girava a direção de um lado para o outro. Hoje você tem o domínio do carro como um todo, você manda informação para o veículo e está tudo ali. A tendência do EPI conectado já é uma realidade e tem uma série de outras questões que estão sendo pensadas no mundo. Estamos participando de alguns grupos de trabalho na União Europeia onde refletimos sobre os impactos do EPI conectado. A tendência é que isso a curto prazo vá acontecer. Falo da Inteligência Artificial, dos robôs controlados por IA. É o EPI que informará o cidadão que ali na frente tem um risco e que ele não está coberto com aquele equipamento. Estou vindo de feira na Europa, nos Estados Unidos, vendo feiras de bombeiro que mostram EPIs com informações muito precisas, por exemplo, sobre determinado tipo de fumaça para que se possa tomar uma decisão rápida do tipo: entra ou não entra no local, como é que eu entro, de que lado eu entro. Coisas que antigamente a gente não tinha. Temos que olhar para a evolução, para as soluções em automação também do EPI e para a quantidade de informações que ele pode levar para o seu usuário.

Ref.: Revista Proteção, Saúde e Segurança do Trabalho (Digital): Potencial gigantesco Editora Proteção Publicações. Ed. 378, p. 14, junho/2023.

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