O trabalho em ambientes frios é comum e faz parte de diferentes setores econômicos, principalmente o alimentício e pode afetar a saúde, o conforto e a eficácia do trabalhador.
A Segurança e Saúde do Trabalho (SST) em ambientes frios vem sendo uma preocupação cada vez mais crescente. Conforme previsto na NR 6, o labor em ambientes com baixas temperaturas requer uso obrigatório de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) apropriados para cada contexto, o que inclui proteção para cabeça, pescoço, tronco, membros superiores e inferiores.
O setor alimentício é o principal quando se fala em trabalho em ambientes frios, como as empresas de conservação de alimentos perecíveis, frigoríficos, indústria de laticínios, supermercados, restaurantes, açougues, centros de distribuição, portos e até caminhões e contêineres refrigerados.
Ao trabalhar nesses ambientes, diversas complicações podem ocorrer, desde desconforto, perda de destreza, calafrio e tremores até enregelamento, hipotermia e morte. Especialistas dizem que o ideal é evitar o trabalho em locais com temperaturas muito baixas, porém não sendo possível, a proteção desses trabalhadores é fundamental e deve cumprir a legislação de SST.
Para entender melhor, a temperatura central do corpo humano, em condições normais, fica em torno de 37º e o frio é um dos agentes físicos capaz de provocar estresse no organismo, como consequência há um balanço negativo entre produção e a perda de calor, levando à alteração do equilíbrio homeotérmico. Com isso, uma série de efeitos fisiológicos pode surgir ou ser agravado, conforme a temperatura no ambiente de trabalho, como vemos abaixo:
Entre 5ºC e 15ºC:
- Redução da destreza, da capacidade da força de preensão e da sensibilidade táctil, sendo que, se a temperatura da mão (medida nas costas da mão) ficar abaixo de 24ºC, ficam prejudicadas as atividades que exigem precisão;
- Contribuição para o aparecimento de fenômeno de Raynaud (dedo branco);
- Aparecimento de problemas respiratórios, como falta de ar, tosse, rinite, principalmente entre trabalhadores que sofrem de asma, bronquite crônica e insuficiência respiratória;
- Influência no aumento da prevalência da Síndrome do Túnel do Carpo devido, principalmente, a movimentos repetitivos;
- Possibilidade do aumento de problemas musculoesqueléticos no pescoço, ombros e costas.
Entre 4ºC e -17ºC:
- Os efeitos já descritos são agravados, podendo desencadear a hipotermia (quando a temperatura central do corpo cai abaixo dos 35 graus Celsius).
Entre -18ºC e -35ºC:
- Redução considerável de destreza, da capacidade da força de preensão para temperaturas da mão abaixo de 24ºC, com influência possível sobre todo tipo de atividade e com risco de acidentes;
- Possibilidade de desencadear o fenômeno de Raynaud;
- Ressecamento das vias respiratórias e agravamento de problemas respiratórios;
- Aumento da prevalência da Síndrome do Túnel do Carpo;
- Aumento considerável de problemas musculoesqueléticos no pescoço, ombros e costas;
- Caso exista uma leve hipotermia, pode haver aumento da pressão arterial e risco de hipertensão a longo prazo.
(Fonte: Manual da NR36)
Com tudo isso, o uso de EPIs, segundo especialistas, devem garantir a estabilidade térmica do trabalhador, permitindo a execução das atividades sem interferir nas habilidades motoras e consequentemente, evitando possíveis acidentes.
Ref.: Revista Proteção, Saúde e Segurança do Trabalho (Digital): Trabalho em ambiente frio – Cuidados essenciais. Por Martina Wartchow. Editora Proteção Publicações. Ed. 320, p. 40-41; 44; 46, Agosto/2018.