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Que calor!

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A exposição do trabalhador a condições térmicas adversas deve ser contemplada no PGR

Jorge Chahoud – Engenheiro de Segurança do Trabalho e Ambiental, Pós-Graduado em Engenharia Biomédica/Clínica, Pós-Graduado em Ergonomia e Especialista em Higiene Ocupacional.

O mundo do trabalho está intimamente ligado ao ambiente natural, e a degradação ambiental, por sua vez, afeta diretamente de forma negativa os ambientes laborais. Assim, a frequência e a intensidade crescentes de desastres naturais associados à atividade humana já causaram perdas de produtividade. Olhando para o futuro, o aumento previsto da temperatura global originará situações de stress térmico cada vez com maior frequência, reduzindo o número total de horas de trabalho e afetando, sobretudo, trabalhadores vulneráveis.

O fenômeno do stress térmico refere-se ao excesso de calor recebido que o corpo pode tolerar, sem comprometer as funções fisiológicas. Ele afeta especialmente as pessoas que trabalham ao ar livre quando expostas a temperaturas muito elevadas, e que por conta do excesso de calor veem-se impedidas de trabalhar, ou podem trabalhar apenas a um ritmo reduzido.

Embora os efeitos fisiológicos da exposição ao calor no local de trabalho sejam alvo de estudos desde a década de 1950, o debate sobre o impacto do stress térmico no trabalho digno no contexto das alterações climáticas adquiriu importância apenas muito recentemente.

Em março de 2017, o diretor-geral da OIT solicitou ao conselho de administração da entidade, a promoção de um debate aprofundado para uma melhor compreensão das implicações das alterações climáticas para o mundo do trabalho em particular para os grupos mais afetados e vulneráveis. As conclusões apresentadas neste relatório deixam claro que o stress térmico no mundo do trabalho deve ser abordado, sobretudo, com a promoção da Segurança e da Saúde no Trabalho, do diálogo social e da transformação estrutural. Essa abordagem também foi adotada em 2019 pela Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho, que salientou a necessidade de uma garantia laboral universal que inclua normas de saúde e segurança em todos os locais de trabalho.

As projeções climáticas apontam para um aumento da frequência e intensidade dos fenômenos climáticos extremos e, como resultado dessa tendência, se verifica uma redução de postos de trabalho e quebra de produtividade. Estamos falando de níveis de calor excessivo, relativamente ao que o corpo pode tolerar sem comprometer as suas funções fisiológicas.

EXPOSIÇÃO

Temperaturas entre 24 – 26°C estão associadas à redução da produtividade, com 33 – 34°C os trabalhadores perdem 50% da sua capacidade de trabalho. Todos os setores poderão ser afetados, mas em certas profissões que envolvem mais esforço físico e/ou ocorrem ao ar livre, as pessoas estão especialmente expostas.

No setor industrial apesar de exercer atividades em ambientes interiores também se verifica a exposição a esse risco, se os níveis de temperatura dentro das fábricas e oficinas não forem regulados adequadamente, em presença de níveis elevados de calor. Até mesmo a realização de tarefas básicas de escritório se torna difícil à medida que a fadiga mental se instala.

Acima de um determinado limiar de temperatura os mecanismos internos de regulação do organismo já não são capazes de manter a temperatura corporal, pois há um nível necessário para o normal desempenho das suas funções. Como resultado da exposição acima do limiar indicado há um risco aumentado de desconforto, as funções físicas e as capacidades ficam limitadas, e, em última análise, existe o risco de lesões e doenças relacionadas com o calor.

AGRAVOS

Dentre os agravos que podem estar relacionados à exposição ao calor excessivo podemos citar:

  • Internação –alteração do centro regulador, pele quente e seca, pulso e movimentos respiratórios fracos e rápidos, aumento da pressão e sintomas como dor de cabeça, vertigem, desmaio e desconforto abdominal.
  • Exaustão do calor –decorrente de uma insuficiência do suprimento de sangue do córtex cerebral resultante da dilatação dos vasos sanguíneos em resposta ao calor, uma baixa pressão arterial é o evento crítico resultante, devido, em parte a uma inadequada saída de sangue do coração e, de outra parte porque há uma vasodilatação que abrange uma extensa área do corpo.
  • Desidratação –em seu estágio inicial a desidratação atua, principalmente, reduzindo o volume de sangue e promovendo a exaustão do calor. Mas em casos extremos produz distúrbios na função celular, provocando até a deterioração do organismo, ineficiência muscular, redução da secreção especialmente das glândulas salivares, perda de apetite, dificuldade de engolir, uremia temporária e febre podem acontecer.
  • Cãibra do calor –espasmos musculares seguidos de uma redução de sódio, atingindo concentrações inferiores a um certo nível crítico. O alto índice de perda de sódio é facilitado pela intensa sudorese e falta de aclimatização.
  • Choque térmico –quando a temperatura do núcleo do corpo é tal que põe em risco algum tecido vital que permanece em contínuo funcionamento. Deve-se a um distúrbio no mecanismo termorregulador, que fica impossibilitado de manter um adequado equilíbrio térmico entre o indivíduo e o meio.
  • Rabdomiólise –doença causada pelo rompimento das fibras dos músculos que pode ocorrer em casos de esforço físico, principalmente em ambientes quentes. Esse problema muscular libera uma série de substâncias para o sangue sobrecarregando os rins. Pode-se estar com essa doença quando a urina começa a escurecer podendo até ficar marrom escura. Outros sintomas podem surgir como irritabilidade inexplicável (nervosismo), confusão mental, febre, vômitos, desmaios, convulsões, tontura, taquicardia, cansaço severo repentino, sinais de desidratação, entre outros.

MITIGANDO OS RISCOS

A aclimatação biológica (adaptação do corpo a uma temperatura diferente da que se está acostumado, ajustando a sudorese, o batimento do coração, a circulação do sangue, entre outras coisas, diminuindo o risco de sobrecarga térmica) ao calor pode oferecer alguma proteção, mas apenas até um certo ponto. Além disso, essa adaptação só pode ser desenvolvida após um determinado período de transição (tipicamente de uma a duas semanas de exposição ao calor).

O administrador do Programa de Gerenciamento de Riscos juntamente com a equipe de profissionais responsáveis pelas questões ergonômicas pode estabelecer procedimentos mitigando os riscos ao stress térmico causado por temperaturas elevadas. A Fundacentro publicou um manual sobre riscos do calor a céu aberto. Seguem sugestões descritas no manual:
• Busque proteger o seu corpo do sol direto; proteja pescoço e cabeça usando chapéu de aba larga ou touca árabe; use roupas leves cobrindo braços e pernas; evite atividades sob sol nas horas mais quentes do dia; se possível, programe-se para que o trabalho mais pesado seja feito no início da manhã ou final da tarde.
• Cuidado com as ondas de calor que são períodos em alguns dias com temperaturas mais altas do que o normal. Ao perceber que está numa situação assim, diminua o ritmo de trabalho, evite se expor ao sol, principalmente nas horas mais quentes do dia, procure tomar mais água e redobre a atenção para possíveis sintomas que podem ocorrer em você e em seus colegas de trabalho.

  • Para trabalhadores aclimatados, ou seja, acostumados a trabalhar em dias muito quentes é importante manter uma alimentação saudável, evitar comidas gordurosas, muito açúcar e/ou muito sal, use apenas medicamentos receitados por médicos, cuidado com o exagero de bebidas alcoólicas.
  • Verifique frequentemente as condições meteorológicas, informe os trabalhadores e implemente procedimentos estabelecidos para condições térmicas adversas.

Conheça a sua realidade, cultive formas de prevenção, veja o que já deu certo e mantenha, criando de tempos em tempos os ajustes necessários.

Ref.: Revista Proteção, Saúde e Segurança do Trabalho (Digital): Que calor! Editora Proteção Publicações. Ed. 383, p. 16, novembro/2023.

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